Amor é diferente de Amar: conheça os seis caminhos do amar

Alexey Dodsworth escreveu um livro que expressa os seis caminhos do amar. Você acha que o sentimento de AMOR é simples de explicar? E quais as diferenças entre AMAR (verbo conjugável) e AMOR (substantivo)?

Este é o primeiro conceito que tratamos no OT UNION, workshop específico da Olho de Tigre onde abordamos, durante um dia inteiro, as 8 vertentes que maximizam a plenitude de uma relação a dois. Se quiser conhecer mais sobre o OT UNION, veja a live que fizemos sobre este assunto:

Qual a diferença entre AMOR & AMAR

No livro de Alexey Dodsworth ele explica que o sentimento de AMOR é um substantivo abstrato. Metamorfoseado em algo externo que nos falta. Um amor que queremos, mas não sabemos se teremos, que nos atormenta pelo medo da perda quando o alcançamos. Enfim, oscilando entre o sofrimento por não tê-lo e o tédio ou medo que sentimos ao alcança-lo. Esse amor substantivo NÃO ESTÁ “em” nós, é externo, abstrato e transcendente.

Mas há um amor ainda pouco compreendido, um amor feito verbo. Isto porque é de responsabilidade exclusivamente nossa (totalmente driver), pois não depende de nada exterior além de nossa própria vontade. É um amor que efetivamente EXISTE “em” nós, e, para que se manifeste, é preciso evoluir em sabedoria e plenitude (eudaimonia ou ataraxia). Trata-se do AMAR!

E este AMAR é muito preterido em relação ao AMOR. As pessoas sentem o AMOR, mas expressam pouco o AMAR, como verbo. É deste AMAR que o livro trata, abordando os 6 caminhos do AMAR.

Amar PHATOS (devorar, apaixonar-se, fantasiar, oscilar, sofrer, arder)

O primeiro dos seis caminhos do amar é uma palavra grega donde deriva o termo “patologia” (doença). Também chamado de “mania” para se referir ao sentimento que é comum a pessoas com baixa autoestima e que praticamente vive em função das oscilações decorrentes de seus extremos emocionais (ruim com ele, pior sem ele).

Os níveis de serotonina de quem ama pathos são tão baixos quanto os portadores de transtorno obsessivo-compulsivo, comum aos adictos (viciados em alguma droga). Típico nas pessoas mais jovens.  Quando este tipo de amor nos acomete, temos a impressão de que não iremos viver sem a pessoa amada.

Se a outra pessoa também vibrar na mesma frequência, o resultado é concomitante belo e terrível de se ver, pois casais apaixonados são ao mesmo tempo lindos e ridículos. Nada parece ter poder para se interpor a eles. Qualquer eventual obstáculo serve apenas para ampliar o poder de pathos e somente o tempo parece ser capaz de diminuir sua intensidade.

Filmes ilustrativos do amar pathos: Atração Fatal (1987) e o romance de Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

Se você responder SIM a qualquer das perguntas abaixo, você já vivenciou a experiência do amar como pathos:

  • Já se apaixonou à primeira vista com tamanha intensidade a ponto de ter certeza de que um(a) completo(a) desconhecido(a) era o amor da sua vida?
  • Já chegou a perseguir alguém por motivos amorosos?
  • Já esteve envolvido(a) num relacionamento cuja maior característica eram altos e baixos intensos?
  • Já experimentou ao mesmo tempo os sentimentos de amor e ódio por alguém?
  • Já vivenciou a necessidade da presença do outro como se fosse uma dor física?
  • Já achou que não viveria sem determinada pessoa?
  • Já se interessou por alguém ou esteve numa relação claramente inconveniente sob todos os sentidos e insistiu nela assim mesmo?

Amar PRAGMA (ponderar, avaliar, preservar, priorizar, justificar)

O segundo dos seis caminhos do amar é considerado o oposto de pathos (o amor que é cego, a paixão que sofre de cegueira e até de surdez). O amar na forma de pragma enxerga demasiado bem (até demais) priorizando valores como segurança, estabilidade e sobretudo, conveniência.

O amar pragmático experimenta seus afetos racionalmente e se pauta em parâmetros realistas, selecionando as parcerias por meio de critérios tão bem elencados que mais parecem uma lista de compras.

Muitos artistas se unem amorosamente devido a conveniência. É o caso, por exemplo, de muitos casais que permanecem unidos apenas em decorrência dos filhos. Não há mais sexo, ou ele ocorre muito eventualmente, e o romance é uma lembrança distante (se é que houve algum dia).

É fortalecido pelo tempo. Ou seja, quanto mais velhos ficamos, mais passamos a valorizar aspectos além das atrações explosivas. Quanto mais pragma, menos pathos (e vice-versa). 

Filme ilustrativo do amar pragma: Gente como a gente (1908).

Se você responder NÃO a qualquer das perguntas abaixo, pragma lhe é importante em algum nível. Mas, se responder SIM a todos, tome cuidado! Esta falta de conveniência tão aguda pode estar colocando você em péssimos cenários. Será importante refletir sobre isso:

  • Você se casaria com uma pessoa cujo trabalho exigisse que ficasse em outra cidade cinco dias na semana?
  • Você se uniria a alguém cuja escolaridade ou nível social fosse extremamente inferior ao seu?
  • Já esteve envolvido(a) num relacionamento cuja maior característica eram altos e baixos intensos?
  • Você prefere alguém que faz suas bases tremerem, que incendeia seu coração, mas cujo comportamento é absolutamente desconfiável?
  • Você seria capaz de dispensar alguém por quem se atraia, embora com menos vigor, mas cuja personalidade você admira e respeita?
  • Você se casaria com quem sente imenso tesão, mas cujo comportamento moral você reprova?

Amar PHILIA (dialogar, partilhar, compreender, pensar, racionalizar, fraternizar)

O terceiro dos seis caminhos do amar considera a AMIZADE, totalmente pautada no interesse de obter algo, sendo classificada como útil e se extingue tão logo o resultado seja alcançado. Trata-se de parcerias temporárias nas quais o sentimento é apenas um meio para se chegar a um fim.

Parcerias de conveniência são muito comuns e não devem ser confundidas com o amor pragma pois há uma diferença importante: após o eventual êxito, nenhum laço mantém as pessoas unidas. Após uma formatura um discurso razoável proclamaria que “a partir de então, todos entrarão numa nova fase de vida, em que os formandos construirão amizades por afinidade, e não por forças das circunstâncias”.

Uma característica curiosa é que a philia pode ser o primeiro passo de relacionamentos mais ardentes, mas quando o sexo eventualmente ocorre, ele é claramente uma consequência e não o foco principal.

Sem philia as demais faces de amor se restringem a uma encenação, na qual o amado é alguém com quem partilho a cama, mas a quem pouco conheço.

Filme ilustrativo do amar philia: Uma rajada de balas (1967) ou Uma história diferente (1978).

Se você responder SIM a qualquer das perguntas abaixo, você provavelmente sente dificuldade em vivenciar o amar philia com seu parceiro(a):

  • Em suas relações amorosas, você costuma esconder coisas do ser amado e é mais honesto(a) com seus amigos?
  • Diz desejar a verdade, mas, quando ela lhe é dada, se ressente?
  • Sente mais cumplicidade com quem não faz sexo do que com quem faz? Ou, dito de outra maneira: dedica-se mais a seduzir e oculta coisas importantes quando se relaciona intimamente?
  • Quando a relação começa a ficar menos sexual, você se preocupa e acha que está algo errado?
  • Sente-se mais a vontade na companhia de amigos que na companhia da pessoa amada?

Amar LUDUS (jogar, seduzir, manipular, brincar, envolver, magnetizar)

O quarto dos seis caminhos do amar, considerando que a philia é a face do amar representativa da honestidade intelectual que sustenta as amizades, ludus é seu oposto. Livros que pretendem ensinar técnicas infalíveis de persuasão altamente sedutoras (e muitas vezes mentirosas), podem ser rotuladas como bíblias do amar ludus, pois fornecem conteúdos específicos sobre a arte da conquista.

Diferente de outras faces do amar, esta é a única capaz de ser desenvolvida (treinada). Nos primeiros encontros, quando nos vestimos com esmero, cuidamos de nossa aparência, criamos um clima e jogamos charme, é ludus que está agindo por meio de nós.

O problema do excesso de ludus é que ele não dá espaço para o fortalecimento da philia (amizade), pois a vida é um “teatro” constante. Com o tempo, a gente cansa de brincar e deixa de agir de forma sedutora com a pessoa amada, pois exige muito esforço.

Filme ilustrativo do amar ludus: Ligações perigosas (1988) ou Segundas Intenções (1999) ou ainda O simpático, como se fosse a primeira vez (2004).

Se você responder SIM a qualquer das perguntas abaixo, você demonstra já ter conhecido a face lúdica (ludus) do amar:

  • Acha tão importante que as pessoas te considerem atraente a ponto de se produzir até quando vais a padaria da esquina?
  • Sente o constante desejo de seduzir outras pessoas, mesmo sem intenção de se envolver com elas? Gosta de se sentir desejado(a) e estimula isso no seu dia-a-dia mesmo quando está comprometido(a)?
  • Mente ou omite coisas sobre você de modo a parecer mais fascinante para os outros?
  • Cria personagens tão convincentes que, no fim das contas, nem sabe mais dizer o que é criador e o que é realmente seu?
  • Já entrou em um jogo amoroso tão poderoso a ponto de se sentir incapaz de sair ileso?

 

Amar ÁGAPE (cuidar, sacrificar-se, doar, perdoar, abençoar, abnegar-se)

O quinto dos seis caminhos do amar é o amar ágape, provavelmente, a única que chegou a ser alçada à categoria de virtude por conta do Cristianismo com sua tradição de 3 virtudes teologais: fé, esperança e amor. Este amor caridoso representa o amar ágape.

Ainda que existam diferenças de aplicação, constata-se que o termo trata de uma elevada afeição, sem conotação erótica ou sensual. Que encontra satisfação em si mesma, cujo sentimento não demanda nenhum tipo de reciprocidade, portanto um afeto positivo sem implicações de retorno.

A referência bíblica (amarás a Deus e a teu irmão como a ti mesmo) é o amor ágape. Pessoas que se dedicam a trabalhos assistenciais, voluntariados sociais e proteção animal são caso de amar ágape.

A amor paterno e materno também configura amar ágape. E o amar ágape também valida a célebre frase dos casamentos: “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”. Estas frases tem a intenção de sustentar o relacionamento mesmo quando não haja reciprocidade.

A ausência total de ágape apenas se sustenta em psicopatas. Se em primeira instância ágape parece um sentimento muito elevado, curiosamente não é raro.

Filme ilustrativo do amar ágape: Irmão sol, irmã lua (1972) que conta a história de Francisco de Assis.

Se você responder SIM a qualquer das perguntas abaixo, você já experimentou, em algum grau, o amar ágape:

  • Você seria capaz de abdicar de algum trabalho pessoal importante em prol de outra pessoa?
  • Você já experimentou um momento em que se sentiu especialmente feliz pelo simples fato de esta vivo?
  • Você já se emocionou de maneira especial com o sofrimento de alguém que desconhece?
  • Você já sentiu amor por alguém cujo comportamento, em tese, não era digno de seu afeto, mas ainda assim não odiou, chegando mesmo a compreendê-lo?

 

Amar EROS (saborear, tocar, regozijar, gozar)

O sexto e último dos seis caminhos do amar, em oposição a ágape, cuja natureza é altruísta e espiritual, o amar eros está focado na satisfação carnal e na obtenção do prazer.

A paixão (pathos) não se confunde pois ela não demanda, necessariamente, a ocorrência do sexo. O contrário é ainda mais fácil de entender, pois é perfeitamente possível sentir o amar eros (sexo) sem que isto implique em sentir o amar pathos (paixão). É a tão banal e conhecida atração sexual sem nada além disto.

Do mesmo modo, o amar ludus e o amar eros não se confundem também. Isto porque o primeiro (ludus) foca apenas no jogo da sedução pela simples vaidade, sem focar na consecução do ato sexual em si. Embora o contrário também se observe (não tão facilmente, pois até animais possuem mecanismo de cortejo).

O fato é que existe sexo sem sedução. O famoso “amor a primeira vista” é em essência o eros, pois decorre do impacto sensorial. Sendo bem direto, ele quer “transar”, somente isso.

Eros sem um mínimo de ludus é pura brutalidade ou incompetência.

Filme ilustrativo do amar eros: A Lagoa Azul (1980) ou O segredo de Brokeback Mountain (2005).

A maioria das pessoas responderá SIM a quaisquer das perguntas abaixo. Isto caracteriza que você já viveu o amar eros em algum grau:

  • Você já sentiu uma tremenda atração física por outra pessoa, mesmo que tal relacionamento não fosse conveniente?
  • Já aconteceu de você estar em num relacionamento, mas mesmo assim se sentir sexualmente atraído(a) por outra pessoa, de forma tão intensa que isso chegava a perturbar seu juízo?
  • Você já se sentiu incomodado(a) por sentir apenas tesão, e nada mais, por alguém?
  • Você já fez sexo alguma vez, sem nenhuma implicação de compromisso futuro ou afeto maior (com prostitutas, por exemplo)?