O patético Movimento de Coaching no Brasil

Sendo curto e grosso: o Movimento de Coaching no Brasil envergonha a classe de profissionais sérios e com lastro acadêmico. Em paralelo, colocam em risco os clientes que acabam confiando nesta “picaretagem”.

Uma reportagem do Fantástico (programa da Rede Globo) aborda um pouco a febre e os problemas deste movimento. De acordo com estimativas da International Coach Federation, existem cerca de 71 mil profissionais atuando como Coachs no mundo.

Continue lendo este artigo e compreenda nossa opinião do porquê, no Brasil, o Coaching está com uma péssima reputação.

Em que consiste o Processo de Coaching?

Pode-se chamar de Processo de Coaching uma intervenção estruturada, dotada de diversas técnicas, com foco comportamental. Orientado para o futuro e com o objetivo de orientação direta de pessoas na tomada de decisão. Focado na melhoria do desempenho e no alcance de resultados pessoais e profissionais.

Não tem nenhuma relação com qualquer Processo de Psicoterapia. Isto porque a psicoterapia é bem mais amplo. Está orientada para encontrar e tratar causas (no passado) para neutralizar ou minimizar disfunções emocionais atuais.

O Processo de Coaching não envolve tratamento de disfunções emocionais nem tampouco tratamento de queixas neste sentido.

Isto posto, todo Processo de Coaching tem dois atores fundamentais:

  • Coach: Técnico, treinador, orientador que ministra e conduz o Processo de Coaching. Em outras palavras, trata-se de um profissional que orienta pessoas em função de objetivos ou resultados estabelecidos;
  • Coachee: Cliente que tem um objetivo a ser definido que se submete ao Processo de Coaching e ao Coach que vai conduzi-lo, com o objetivo de ser ajudado neste percurso.

Os resultados do Movimento de Coaching são sustentáveis?

Existem algumas publicações que apresentam estatísticas das manifestações de executivos que passaram por algum Processo de Coaching. Uma delas, publicada pela Revista Fortune, relata a estatística de suas impressões:

  • 77% deles relatam melhora no relacionamento com seus subordinados;
  • 71% deles relatam melhora no relacionamento com seu superior;
  • 63% deles relatam melhora no relacionamento com seus pares;
  • 61% deles relatam aumento do nível de satisfação com o trabalho;
  • 44% deles relatam aumento de comprometimento com a organização.

Estas estatísticas, como podem ver, são marcadas pela subjetividade opinativa dos envolvidos, e de complexa comprovação.

Não apresenta melhoria efetiva nos indicadores de desempenho destes executivos, como decorrência do Processo de Coaching. Nem tampouco apresenta o nível de consecução dos objetivos alvo de cada um deles (foco preponderante do processo de coaching).

Outro estudo publicado no Public Personnel Management Journal concluiu que os profissionais que apenas participaram de determinado treinamento gerencial aumentaram em 22,4% sua produtividade. Enquanto que os que passaram pelo Processo de Coaching, após esse mesmo treinamento, aumentaram sua produtividade em 88%.

Este estudo apenas comprova o óbvio: que, se depois de qualquer iniciativa de treinamento gerencial houver acompanhamento personalizado (seja ele qual for), os resultados tendem a ser bem mais expressivos.

O fato é que há evidências de que o Processo de Coaching funcione. Por outro lado estas evidências são bastante subjetivas, o que sugere e dá margem ao rótulo de “picaretagem”

Neste sentido há dois problemas a serem resolvidos:

  1. A Psicologia Positiva como base do Movimento de Coaching;
  2. Os curso que prometem formar Coachs profissionais.

Problema 1 – A Psicologia Positiva como base do movimento

Um dos autores que pode ser considerado um dos principais protagonistas da Psicologia Positiva é Mihaly Csikszentmihalyi. Foi ele quem escreveu seus principais fundamentos no livro Flow – A Psicologia do Alto Desempenho e da Felicidade.

A base da Psicologia Positiva é nobre. Ela foi fundamentada numa abordagem eudaimonista (vide o significado mais abaixo). Os psicólogos deveriam focar menos nas doenças psicossomáticas e disfunções de comportamento e focar mais nas potencialidades presentes nas pessoas.

Nada mal, pelo contrário. Isto porque, trata-se de uma constatação e uma proposta pertinente e necessária. O problema é que esta abordagem foi muito banalizada, a ponto de prometer às pessoas de que tudo seria possível, que qualquer meta seria alcançável.

Metaforicamente, seria como prometer a um peixe que ele poderá viver de subir em árvores!

Definitivamente subir em árvores não é da natureza dos peixes e, portanto, não seria honesto prometer este tipo de possibilidade a um peixe. Guardadas as devidas proporções, é exatamente isto que o que Movimento de Coaching acaba vendendo.

Esta banalização do termo foi exercida principalmente pelo Movimento de Coaching. Isto porque começaram a utilizar levianamente esta promessa frívola, mentirosa e demagógica. Mas que consiste no discurso que todos parecem querer ouvir.

Isto trouxe (e creio que, neste momento que escrevo este artigo, ainda traz) milhares de pessoas ao movimento. Ela confunde Hedonismo com Eudaimonia.

Quais as diferenças entre Hedonismo e Eudaimonia?

Hedonismo configura um modo de vida inspirado na pura dedicação ao prazer como bem supremo em busca da felicidade.

Uma felicidade que procura apenas subtrair momentos desconfortáveis da vida. Em outras palavras, procurar apenas qualquer coisa que lhe dê prazer, mesmo que momentâneo.

Para o hedonista, tudo, absolutamente tudo, é possível e, portanto, fica influenciável por quaisquer possibilidades, mesmo que distante de suas reais potencialidades.

Eudaimonia é a doutrina ética grega que prefere a busca da plenitude como finalidade da vida humana.

Um conceito que distingue limite de limitação. Deixando claro que a limitação pode ser vencida (e será, se houver coragem e bravura para fazer o que precisa ser feito), mas o limite (que cada um de nós tem) não pode ser ultrapassado.

Em síntese, trata-se de uma visão mais realista da vida, consequentemente menos mentirosa, mas bem menos atraente também.

Fiz um vídeo breve comentando nosso posicionamento acerca deste problema. Assista abaixo:

Problema 2 – As cursos que prometem formar Coachs profissionais

Fazer um curso rápido de um final de semana (por exemplo) não basta para habilitar alguém a viver disto. Nem tampouco basta um curso mais longo, com carga horária bem maior.

Um curso de Processos de Coaching pode ser razoável como meio de evolução pessoal em relação a diversos traços emocionais a serem aperfeiçoados. Em contrapartida, ele jamais poderá ser critério de credenciamento de alguém para transformar-se em profissional de Coach.

O grande problema é que os cursos não estão focados principalmente em aperfeiçoar as pessoas no autodesenvolvimento comportamental.

O principal foco, e o que realmente traz multidões, é que eles prometem credenciar profissionais a atuarem, profissionalmente (portanto de forma remunerada) como Coachs

Quaisquer cursos que existem por aí, destas escolas de Coaching (todas elas, sem exceção), não tem conteúdo suficiente para formar uma pessoa para atender alguém.

Nem tampouco autoridade suficiente para credenciar alguém a atuar como profissional de Coaching.

A prerrogativa de autorização de alguém para trabalhar profissionalmente com atendimento de pessoas é ainda específica dos cursos de formação acadêmica e dos conselhos regionais pertinentes.

Somente um psicólogo ou alguém com algum tipo de curso com lastro acadêmico reconhecido, pode atender alguém. Principalmente no contexto comportamental, e ser remunerado por isto.

Uma pessoa que se matricula nestes cursos de multidão e se forma, acaba recebendo um certificado que o empodera para que, a partir de então, comece a exercer sua nova profissão de Coach. Este é o absurdo que precisa ser combatido e devidamente regulamentado.

Conheço pessoas que beiram a demência, que estão sendo formados nestes cursos, e que estão atendendo pessoas. Nada contra os cursos disponíveis, reitero, eles tem sua função de “melhorar pessoas” e podem até ser bons, mas não podem empoderar ninguém a fazer desta formação uma nova profissão.

Onde a Olho de Tigre pode ajudar neste processo

Nós aqui na OT temos diversos conteúdos que tem a missão de desenvolvimento comportamental do indivíduo nas ambiências pessoal, familiar, social e profissional, em prol da busca pela Plenitude.

Mas nenhuma de nossas formações habilita alguém a atuar como profissional de atendimento nem tampouco habilita alguém a fazer o que nós fazemos. Estudamos muito para poder realizar o que realizamos, e sabemos que somos diferentes do que existe por aí.

Clique aqui e veja um vídeo onde nós nos posicionamos sobre o que existe no mercado.

Nossa linha é muito diferente do Movimento de Coaching. Temos um estilo próprio alicerçado em premissas muito diferentes, que difere muito desses modismos e jamais vai promover o hedonismo. Somos em prol do eudaimonismo!