28- Lei da Competência Aplicada

Não existe diferença qualquer entre uma pessoa que não sabe ler da pessoa que sabe ler, mas que não lê. Uma COMPETÊNCIA só é realmente útil quando o seu invólucro está comprometido em colocá-la em prática.

Mas será que somos competentes mesmo? Quando pergunto isto às pessoas e às plateias de minhas palestras, a grande maioria diz que SIM, no entanto prefiro perguntar se são competentes com relação a alguns assuntos especificamente. Veja como faço:

  • Pergunto a alguém: Você é unicófago?
  • Pergunto a outro alguém: Você já foi defenestrado?
  • Falo a frase: Encontro-me circunscisfláutico pela escassez de seus ósculos e de seus amplexos. Se não nos fizemos entender, então consultem um cale pino e verás que esta frase não passou de mera questão epistemológica!
  • Pergunto a outro alguém: Você já cavalgou de lhamas?
  • Pergunto a qualquer um: Alguém poderia me dar algum específico sobre sexo dos dinossauros?

As gargalhadas são inevitáveis, pois as pessoas se apercebem incompetentes para com estas palavras. Senão vejamos os estágios da COMPETÊNCIA.

Quando somos INCOSCIENTEMENTE INCOMPETENTES, isto é, desconhecemos totalmente aquilo que não sabemos. Ignoramos na totalidade aqueles assuntos e nunca havíamos nos apercebido disto. “Não sabíamos que não sabíamos”. Esta é a primeira etapa do exercício de adquirir competência e, pelo simples fato de ouvir (temos dois ouvidos e apenas uma boca exatamente para ouvir mais e falar menos) aquelas perguntas, já nos permitimos evoluir para a segunda etapa da competência.

Depois somos CONSCIENTEMENTE INCOMPETENTES, ou seja, o simples fato de permitir-se ouvir as coisas já lhe promove sair do estágio anterior, para adentrar imediatamente neste estágio, com relação a inúmeros temas por nós ignorados. O hábito de ler algo que não nos chame a atenção também é um ato disciplinado para migrar para este estágio. E quais as vantagens de estar neste estágio da competência? A vantagem é apenas uma: a de não conseguir manter-se nela durante muito tempo, instalando em nós uma espécie de “comichão” que nos estimula a procurar conhecimento sobre aquilo que ignorávamos completamente. Este estágio, nos impulsiona ao estudo e nos leva ao próximo estágio.

Em seguida nos transformamos em CONSCIENTEMENTE COMPETENTES, como fruto de nosso estudo oriundo da impossibilidade de conviver apenas no estágio anterior, aprendem-se efetivamente mais detalhes sobre aquilo que ignorávamos completamente. É assim que os alunos se encontram quando fazem as provas, no entanto, é a única fase onde se encontra algum obstáculo para continuar evoluindo para o próximo e último estágio da competência. Só neste estágio é que aparece, pela primeira vez, a sensação de DÚVIDA ou de CONFUSÃO, própria de quem está catalisando aquilo que está aprendendo.

É aqui que neste estágio que o professor poderia auxiliar, ou ainda conversar com pessoas mais experientes sobre o assunto específico ou ainda ler determinadas literaturas mais completas e detalhadas sobre o que se estuda. No entanto, o que temos percebido ao longo dos anos é que nesta fase as pessoas se desmotivam à continuidade do esforço em adquirir mais competências. De alguma forma são desmotivadas a continuar e extrair todas as suas dúvidas e confusões. É aqui que guarda morada a LEI DO CABRESTO.

Por último resta a etapa em que nos descobrimos INCONSCIENTEMENTE COMPETENTES. Esta é a fase mais magnífica, pois não temos a consciência do quanto sabemos daquele assunto específico. Somos surpreendidos durante as madrugadas para acordar, pegar uma caneta e registrar algum “insight”, pois não controlamos o que pode “pular” de nossa intelectualidade. A maioria de nós atinge este estágio de forma autônoma pelo funcionamento de nosso sistema nervoso simpático e parassimpático (exemplo: competência de respirar, piscar os olhos, andar, respirar, dirigir, comer, se vestir, etc). Num exemplo menos autônomo sobre esta etapa, você poderia imaginar duas situações distintas:

  • Numa primeira hipótese, um homem pega uma bala de hortelã, a desembala, coloca-a em sua boca e o papel é amassado para ser jogado fora de seu automóvel (ou seja, na rua). Já com o braço de fora do carro, este homem lembra-se que é errado jogar coisas na rua e retorna, portanto, o braço para dentro de seu automóvel, jogando o papel na lixeira de seu carro;
  • Numa segunda hipótese, um outro homem pega uma bala de hortelã, a desembala, coloca-a em sua boca e o papel amassado é imediatamente depositado na lixeira de seu carro.

Ambas as situações hipotéticas desembocam numa atitude correta, isto é, a de jogar o papel da bala na lixeira de seu automóvel, no entanto, a atitude do homem da segunda hipótese é mais nobre, pois sequer lhe passou pela cabeça a oportunidade de jogar o papel na rua. Quanto ao homem da primeira hipótese, embora tivesse jogado o papel na lixeira, correu-lhe o risco de esquecer o que tinha aprendido ou de lembrar-se imediatamente após ter aberto sua mão, sem conseguir evitar o ato de jogar fora o papel na rua, nada exemplar.

Antes de terminar a abordagem deste último estágio da competência é preciso dizer que quando o atingimos, adquirimos também uma maturidade para com o semelhante, onde não mais precisamos ficar dando broncas às pessoas, insistindo desta forma para que elas não cometam atos desaprováveis.

Por exemplo, se uma pessoa no estágio de CONSCIÊNCIA DA COMPETÊNCIA visualizasse uma pessoa jogando papel na rua, seria muito comum ela manifestar-se assim: “Ei, seu porco! Você viu onde você jogou o papel? Largue mão de ser sujo e jogue este papel no lixo! Se sua casa é uma bagunça, esta rua não deve ser”.

Já uma pessoa no estágio de INCOSCIÊNCA DA COMPETÊNCIA, observando a mesma circunstância, não adotaria o “bate-boca”, ela simplesmente pegaria o papel com suas próprias mãos e o jogaria no cesto de lixo mais próximo, não necessitando dar o “esculacho” no cidadão, bastando para ele a simples e eficaz prática do bom exemplo e não da repreensão formal e desgastante.

Penso ser esta, a PRÁTICA DO EXEMPLO, muito mais eficaz, pois duvido que este cidadão jogue novamente algum papel na rua, principalmente se esta pessoa estiver por perto, e aquele que pegou o papel, também não precisa ter a certeza de que corrigiu o outro cidadão, apenas foi automático em fazer aquilo que, ele sabe, seria o mais correto.

É isto que valorizo com a LEI DA COMPETÊNCIA APLICADA.

Outra vertente complementar é que todos somos orientados para ser desenvolver COMPETÊNCIA e, por conta deste patrimônio adquirido, sugere-se que se perceba remunerações maiores de forma proporcional ao nosso maior for nosso grau de competência. Mas tão vital quanto a COMPETÊNCIA é desenvolvermos também a COMPETITIVIDADE.

Será que você também é COMPETITIVO (não é COOPETIVIVO como abordamos na LEI DA CORDIALIDADE)?

Se realmente for, então deveria aceitar ganhar menor salário e continuar trabalhando no mesmo nível de intensidade ou até aumentá-lo, quando pertinente. Não compreendeu minha argumentação? Então acompanhe o raciocínio.

Imagine se aparecesse alguém para concorrer ao seu cargo dentro de sua empresa (não precisa que você tenha sido demitido), e consiga comprovar que seria tão bom quanto você (não melhor que você, apenas tão bom quanto), no entanto pedindo 90% de seu salário atual.

Você acha que ele é mais competitivo que você!? Como seu patrão se comportaria diante desta situação? Será que ele poderia demitir você e contratar este outro profissional de igual desempenho e ainda mais barato!? Sei que é difícil admitir alguém igualzinho a você (faça um esforço, servirá apenas para fortalecer nosso exemplo), mas se este alguém existisse, ele lhe traria problemas cobrando menos de valor atualmente pago a você!? Se admitir que sim, então temos um problema de COMPETITIVIDADE e não de COMPETÊNCIA.

De forma análoga nos comportamos da mesma forma quando o assunto não são pessoas, mas produtos ou serviços. Admita que vais comprar um produto igualzinho a outro de outra loja (vamos admitir, novamente como pressuposto, que os produtos são idênticos, de qualidade igual, de marcas iguais, com atendimento igualzinho, e tudo o mais exatamente igual). Sempre preferirá a loja onde o preço praticado for mais barato. Se é assim que funciona no mundo dos produtos e serviços é assim que funcionaria também no mundo dos profissionais, ou seja, alguém IGUAL sob o ponto de vista da COMPETÊNCIA for mais barato que o outro, este será mais COMPETITIVO.

Uma mola tem uma enorme energia potencial armazenada em sua estrutura helicoidal, mas se estiver jogada num canto qualquer, não serve para absolutamente nada. Da mesma forma, uma pessoa COMPETENTE em seu último estágio é conquista importante, mas não basta, pois se não for orientada para APLICAÇÃO de tudo aquilo que sabe, então pode morrer que não fará nenhuma falta ao mundo.

É necessário que saibamos APLICAR toda a nossa competência com eficiência (de maneira certa), eficácia (com resultados) e efetividade (durante muito tempo).  Você, quando opta pelo mais barato, no caso de um produto ou serviço serem absolutamente idênticos, nem sequer pensa que a loja que vende o produto mais caro vai deixar de faturar e, por decorrência disto, poderá causar a demissão daquela atendente. Pois é, ser COMPETITIVO, dentre outras coisas é ser MAIS COMPETENTE por valores menores, e isto não se aplica só a produtos, mas as pessoas também, e principalmente se formos observar as tendências do Século XXI.

As pessoas, por razões que nos escapam, acreditam que merecem mais dinheiro só porque são mais COMPETENTES ou porque fizeram suas pós-graduações, seus mestrados, seus doutorados, armazenando suas experiências internacionais e/ou tantas outras qualificações. Não tem nada a ver a percepção de dinheiro com a mera COMPETÊNCIA, mas sim e preponderantemente com a capacidade de colocá-la em PRÁTICA.

Quer ver? Me diga qual é sua PROFISSÃO?

Se você falou algo como encarregado, chefe, gerente, auxiliar, coordenador, etc., então errou, pois estas coisas são cargos e não profissão. Se você quis corrigir e falou contador, pedagogo, assistente social, físico, etc., então errou novamente, pois estas coisas são formações acadêmicas e também não são profissões.

PROFISSIONAL é aquele que escolhe uma de suas diversas competências básicas, preponderantemente aquela onde ele é mais eficaz, eficiente e efetivo, e a elege como aquela que ele comercializará às organizações onde está competência for relevante para alavancagem de sua performance.

Todo o restante de suas competências são brindes, entregues no instante de sua contratação (compra da competência eleita para comercialização). Um motorista (isto é profissão, não é formação acadêmica nem cargo) quando é contratado, doam diversas outras competências: a de ser cordial, vaidoso, etc. Um jogador de futebol (também uma profissão, pois não são a formação acadêmica nem tampouco cargos, estes seria centroavante, lateral direito, quarto zagueiro, etc.) quando é contratado, doa outras competências: sua disciplina, sua dedicação, seu hábito em ser pontual, etc. Até uma prostituta (uma das mais antigas profissões da humanidade) também, quando contratada, doa uma série de outras características que a transforma em competitiva quando comparada com as demais e é por isso que ganha mais dinheiro, porque doa mais, embora nunca tenha deixado de comercializar a mesma competência eleita. Aliás, a característica que leva um profissional a ser bem sucedido, de uma forma mais ampla, é a sua competitividade, da qual a competência é apenas um dos fatores.

Em suma, ser COMPETENTE, não basta, é importante APLICAR a COMPETÊNCIA que foste capaz de conquista ao longo de sua vida e COLHER resultados. Ficar bradando a todos os cursos que fez, os livros que leu, os conhecimentos que adquiriu sem tampouco poder exemplificar onde os aplicou e os resultados que colheu estará lacunar em relação a LEI DA COMPETÊNCIA APLICADA.